
Carinho que cavocam nas teclas a procurar onde ela está dentro de minha alma, onde ela se esgueira como uma seda escorregadia por cada vão de meu abandonado mobiliário interno, e todas as minhas câmaras e balcões e alamedas estão sozinhos sem ela – ela, a única vela no centro da sala de baile a desenhar-me sombras serpentinas erguendo-se pelas paredes e fazendo toda minha sóbria arquitetura dançá-la com os braços para cima e olhos fechados... Onde ela está, que com tanta ausência preenche cada fresta da cerâmica de minhas rachaduras e canta um lamento lúgubre através de meus rochedos que o vento da passagem de tantos dias esculpiu? A ausência dela é uma tenda de lona de circo vazia com cães mortos dependurados nas juntas das estacas. Onde agora o riso e as cores? Quisera desenha-la com esses dedos, quisera moldar no ar seu volume de pétala, quisera esmagar vaga-lumes sob minhas unhas para acender com um gesto de cimitarra o sorriso dela no ar denso da noite. Quisera vagar pelo campo sob a lua de braços abertos a pentear com minhas mãos seus cabelos de linho e caminhar sobre ela inteira até desaparecer em seu horizonte.
Venham, venham, dedos, e contem a ela o meu amor maior que minha alma, o langor de meus dias ouvindo em minha pele o sino perpétuo de sua lembrança, e a dolorosa lentidão de minha longa, longa, longa saudade infinita.
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