
(Porque creio que pertence muito
Também ao passado)
E seus olhos são de uma doçura triste
Como que de mãe sozinha
Que olha os filhos que crescem
E falam,
E sente saudades de quando choravam,
Das histórias fantásticas
Que nunca seriam compreendidas;
Das cantigas que falavam de bichos,
Lendas e palavras inventadas.
Eva alimenta seus filhos com doces
Feitos, pelas mãos marcadas,
Com colher de pau.
Eva chora escondido
E dá beijo estralado;
Quando perguntam o porquê da peruca
Sobre os cabelos engruvinhados e grisalhos,
Responde com a vergonha acanhada
Das coisas que evita dizer:
“Ai, não... é fêi...”
Eva está no seu quartinho
A banhar as pernas inchadas com ervas que dão por aí,
E a olhar assustada as coisas novas.
Eva vive.
Eva é negra.
– 1988.
Nenhum comentário:
Postar um comentário