quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Cantava, ela.

Cantava, ela. Linda, que era, cantava, ainda. Um doce, com seus olhinhos inchados a lembrar seu sexo, sua dancinha ingênua sob o chuveiro. Seu corpo todo sorria a fazer covinhas no final do escorregador brilhante de suas costas, pequenos cálices de minhas poucas lágrimas que ela, afundada no edredon, nunca viu.

Gostava de pompons atrás do tornozelo de suas soquetes coloridas sem as quais nunca dormia e com as quais nunca acordava. Tinha o hálito mais doce do mundo que assoprava-o através de seus labiozinhos pequenos. Demorava-me horas, creio, a vê-la antes que o sono me convencesse a confiá-la à manhã seguinte. Acordava-me sempre prematuramente, a cantarolar do meu lado olhando pro teto e brincando com as mãos. Linda, que era, cantava, ainda – mal, contudo, como nunca minha dolorosa vergonha conseguiria confessar.

Um comentário:

Unknown disse...

Tão bonito, isso. Que bom ver seus escritos aqui.
Gostei imenso da forma, da cor do fundo e das fotinhas. Escritos lambuzados de sentimentos que escorrem, das palavras caem gotas de amor, prazer, angustias, medos, contenamento, tanto Ernani. Gostei e me emocionei, que amor mais lindo.