quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

(I: 5, 8, 13-19, 23, 31)

16. ...foi quando, assentados num dos bancos duros do pátio, discutíamos sobre as luas cheias e as estações que o rabino Itzhak, ainda jovem na época, veio a dizer-me que, na verdade, o dia começa à tarde, e em seguida é que vem a manhã. Talvez fosse o excesso de estudos que lhe conferisse aquele ar exageradamente vagaroso, artificiosamente circunspecto, com o qual disse-me que ‘a noite' - escolhendo as palavras e devagar, como que dando-me tempo para apreender algo que enfim não percebi - ‘... parte central do dia, é governada pelo menor dos luzeiros’... Fazia-o assim, com cerimônia, usurpando o mistério das construções rebuscadas, pois com isso sabia que eu, com minha infantil credulidade, ficaria alguns instantes desconcertado contemplando a novidade de estar ali numa madrugada de sol ou de, por um primeiro e vertiginoso instante, olhar invertidamente para todos os meus dias até ali, ou ainda mesmo de imaginar que...

[Vida no Gueto - Donald Ray Johnson ; N.Y., ed. Paperground, 1976. p.53 (trad. Anna Lívia Guedes, inéd.)]

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