quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

(II: 10-14)

12. Em novembro de 1873 partiu da pequena cidade de Varna um grupo de quatro professores búlgaros muito pios numa longa e funesta expedição dita a Bagdá. A viagem pelo Negro em um confortável barco foi provavelmente providenciada por antigos amigos do Departamento de Arqueologia da Universidade de Sófia, e aproveitaram-na para checar os últimos cálculos e atualizar as previsões. Atravessaram o estreito de Bósforo até Istambul, onde muniram-se adequadamente de provisões, e selaram entre si um pacto solene cujo conteúdo nunca foi revelado. Costeando o Mahrmara, passaram por Izmit, e logo adiante em Adapazhari decidiram seguir por rio: desceram o largo Sakarya até o calmo lago Saryiar Baraji, donde tomaram abaixo a confluência do Ankara até a bela e agitada cidade que lhe dá nome. Voltaram a viajar por terra pela plana e árida trilha que conduz a Elmadag, eternamente minúscula e vazia, e desceram quase até Kirikkale, a partir de onde cursaram pelas águas fortes do Kizilirmak, ainda animadas que se sentiam àquela altura pelo Negro, até Kayseri. Daí rumaram para Malatya seguindo os ventos que a castigam e, cruzando pela primeira vez o Eufrates, subiram em direção a Elâzig: após passar o Madendag, logo chegaram às pousadas atarracadas de Maden, onde descansaram a tarde e a manhã. Retomando a viagem, logo chegaram a um povoado esparso e esfumaçado chamado Elgani e tomaram novamente o curso das águas, em uma das extremidades ainda mansas do Tigre que, à medida que se aproximava das planícies de Diyarbakir, tornava-se cada vez mais caudaloso. Perto de Raman, onde os viajantes costumam dizer que come-se bem, decidiram acampar por mais tempo antes de cruzarem Cizre, na fronteira, pois alguns estavam com um pouco de febre. Recuperados, não demorou que entrassem em território Persa, e chegaram a Mossul em dois dias: ali regularizaram os documentos diplomáticos, tomaram informações, receberam os equipamentos encomendados e reuniram-se com alguns especialistas locais em culturas mesopotâmicas e caldaicas. A comitiva não chegava a quarenta e cinco pessoas, entre técnicos e criados, e instalaram-se todos em quatro confortáveis embarcações Tigre abaixo. A partir de Al-Kayyara, a paisagem começava a tingir-se do verde babilônico: Al-Fatha, Tikrit, com suas casas altas e pequenas encolmeiadas umas sobre as outras, passaram suaves à costa, como em vitrines frescas de um imenso museu de ciências do homem a céu aberto, e logo chegaram à abundante vegetação da região de Samarra. Finalmente recebidos em Bagdá, proferiram quatro palestras muito ilustradas na Academia, cada qual segundo sua especialidade, visitaram as mesquitas a conversar com anciãos, e, depois de dois dias, desapareceram subitamente de tal maneira que de nenhum deles se teve qualquer notícia - o que quase veio a deflagrar sérios embaraços diplomáticos - até que se soube que foram vistos em Al-Hindija, uma cidadezinha cortada pelo Eufrates a um pouco mais de cem quilômetros ao sul de Bagdá. Descobriu-se que, lá chegando, registraram-se como vindos de uma pesquisa arqueológica em Kabara, e alguns criados da estância onde se hospedaram afirmaram tê-los ouvido discutir violentamente durante a noite que lá passaram. Foram, por fim, encontrados mortos, em abril de 1874, os quatro, em toscos nichos de escavação arqueológica nas cercanias de Al-Hilla, que, improvisados e violentamente revolvidos, assemelhavam-se mais a um local atacado por uma quadrilha de garimpeiros tomados por alguma espécie de febre dos minérios. De fato, fôra o mercúrio que provavelmente contaminara a comida, e jaziam horrivelmente nos buracos: seminus, a pele a rachar-se, com manchas na boca e a as unhas repletas da terra cascalha, cada qual tinha, crispado em uma das mãos, um pequeno objeto que, juntos, perfaziam um curioso conjunto - uma miniatura de bdélio em formato de cabeça de leão, uma caixinha de ônix, uma pepita de ouro de excelente qualidade e um pequeno frasco de vidro fino quebrado, do qual jamais se pôde descobrir o que continha.

[Expedições Desafortunadas, O Livro das - sir Walter Burnsteen (ed.); London, 1897, pp. 67 e 68 ]

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